sexta-feira, junho 24, 2005

Florbela Espanca


Poetisa portuguesa, natural de Vila Viçosa (Alentejo). Nasceu filha ilegitima de Joao Maria Espanca e de Antonia da Conceiçao Lobo, criada de servir (como se dizia na epoca), que morreu com apenas 36 anos, «de uma doença que ninguém entendeu», mas que veio designada na certidao de obito como nevrose. Registada como filha de pai incognito, foi todavia educada pelo pai e pela madrasta, Mariana Espanca, em Vila Viçosa, tal como seu irmao de sangue, Apeles Espanca, nascido em 1897 e registado da mesma maneira. Note-se como curiosidade que o pai, que sempre a acompanhou, so 19 anos apos a morte da poetisa, por altura da inauguraçao do seu busto, em Évora, e por insistencia de um grupo de florbelianos, a perfilhou.
Estudou no liceu de Évora, mas so depois do seu casamento (1913) com Alberto Moutinho concluiu, em 1917, a secçao de Letras do Curso dos Liceus. Em Outubro desse mesmo ano matriculou-se na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, que passou a frequentar. Na capital, contactou com outros poetas da epoca e com o grupo de mulheres escritoras que entao procurava impor-se. Colaborou em jornais e revistas, entre os quais o Portugal Feminino. Em 1919, quando frequentava o terceiro ano de Direito, publicou a sua primeira obra poética, Livro de Magoas. Em 1921, divorciou-se de Alberto Moutinho, de quem vivia separada havia alguns anos, e voltou a casar, no Porto, com o oficial de artilharia Antonio Guimaraes. Nesse ano também o seu pai se divorciou, para casar, no ano seguinte, com Henriqueta Almeida. Em 1923, publicou o Livro de Soror Saudade. Em 1925, Florbela casou-se, pela terceira vez, com o médico Mario Laje, em Matosinhos.
Os casamentos falhados, assim como as desilusoes amorosas, em geral, e a morte do irmao, Apeles Espanca (a quem Florbela estava ligada por fortes laços afectivos), num acidente com o aviao que tripulava sobre o rio Tejo, em 1927, marcaram profundamente a sua vida e obra. Em Dezembro de 1930, agravados os problemas de saude, sobretudo de ordem psicologica, Florbela morreu em Matosinhos, tendo sido apresentada como causa da morte, oficialmente, um «edema pulmonar».
Postumamente foram publicadas as obras Charneca em Flor (1930), Cartas de Florbela Espanca, por Guido Battelli (1930), Juvenilia (1930), As Marcas do Destino (1931, contos), Cartas de Florbela Espanca, por Azinhal Botelho e Jose Emidio Amaro (1949) e Diario do ultimo Ano Seguido De Um Poema Sem Titulo, com prefacio de Natalia Correia (1981). O livro de contos Domino Preto ou Domino Negro, varias vezes anunciado (1931, 1967), seria publicado em 1982.
A poesia de Florbela caracteriza-se pela recorrencia dos temas do sofrimento, da solidao, do desencanto, aliados a uma imensa ternura e a um desejo de felicidade e plenitude que so poderao ser alcançados no absoluto, no infinito. A veemencia passional da sua linguagem, marcadamente pessoal, centrada nas suas proprias frustraçoes e anseios, é de um sensualismo muitas vezes erotico. Simultaneamente, a paisagem da charneca alentejana esta presente em muitas das suas imagens e poemas, transbordando a convulsao interior da poetisa para a natureza.
Florbela Espanca nao se ligou claramente a qualquer movimento literario. Esta mais perto do neo-romantismo e de certos poetas de fim-de-século, portugueses e estrangeiros, que da revoluçao dos modernistas, a que foi alheia. Pelo caracter confessional, sentimental, da sua poesia, segue a linha de Antonio Nobre, facto reconhecido pela poetisa. Por outro lado, a técnica do soneto, que a celebrizou, é, sobretudo, influencia de Antero de Quental e, mais longinquamente, de Camoes.

Poetisa de excessos, cultivou exacerbadamente a paixao, com voz marcadamente feminina (em que alguns criticos encontram dom-joanismo no feminino). A sua poesia, mesmo pecando por vezes por algum convencionalismo, tem suscitado interesse continuo de leitores e investigadores. É tida como a grande figura feminina das primeiras décadas da literatura portuguesa do século XX.
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Nascimento: 1894
Morte: 1930
Época: Simbolismo