segunda-feira, junho 20, 2005

O nascimento

O nascimento aparece como a primeira das etapas do ciclo de vida. Nesta altura, a mulher tem um papel imprescindivel, ja que, quem exerce directamente essa actividade sobre os corpos, sao os elementos do sexo feminino. Sao elas que sabem e assistem ao nascimento, a doença e a morte.
O ritual que envolvia o nascimento assumia-se como um acontecimento imbuido de uma carga simbolica, que atingia nao so a mae/recém-nascido, como toda a comunidade.
O nascimento de uma criança foi sempre motivo de uma forte alegria: dai que antes do proprio parto, a mulher se precavia para que nada perturbasse a vinda deste novo ser. Associados a gravidez e ao proprio parto, estao determinados interditos que ao longo das geraçoes foram sendo transmitidos e respeitados. Os que foram mais vezes pronunciados tem a ver com os objectos/utensilios que acompanhavam a futura mae. A mulher gravida nao podia usar tesouras, chaves, medalhas, porque a criança pode nascer com o labio rachado. Nao devia usar colares, nem fiar, porque a criança podia nascer com o cordao umbilical a volta do pescoço. Nao podia ainda durante a gravidez coser roupa que tragam vestida, porque a criança ficava agarrada a mae e so quando descoser o que coseu a criança podera nascer.
Estes eram apenas alguns aspectos dos interditos relacionados com o periodo de gravidez. O parto também era motivo de preocupaçao da gravida, pois para dar a luz sem que algo de negativo se passasse, havia que respeitar algumas regras de ouro. O momento do nascimento era ritualizado e os modos de expressao desse mesmo momento reflectiam toda uma cultura local – O que é duro de passar é doce de lembrar.
O ritual do nascimento era um acto que envolvia toda uma comunidade, em que todas as mulheres participavam, ajudando a «aliviar», nao so através de oraçoes (uma das maneiras de se solidarizarem com aquela mulher, naquele momento) mas também com o auxilio no pos-parto.
Vilar do Paraiso, como era vulgar, foi ao longo dos tempos, contemplada com a acçao das mulheres que as senhoras mas antigas chamam de «habilidosas». Eram estas as parteiras que auxiliavam a gravida tanto no parto como no periodo que se lhe seguia, ja que davam banho ao bébé, vestiam-no e levavam-no a igreja para ser baptizado.
O nascimento era (é) um momento tenso, de intimidade, drama e alegria, de uma espera quase infinita, mas um momento inesquecivel na vida de cada mulher.