domingo, julho 10, 2005

Lenda da Nossa Senhora de Vagos

A pouco mais de um quilometro da vila de Vagos, situada num local campestre, pitoresco e aprazivel, convidativo a oraçao, fica a ermida de Nossa Senhora de Vagos cheia de historia e tradiçao. Consta que antes do actual santuario, existiu outro a dois quilometros deste de que ha apenas vestigios de uma parede bastante alta, denominada «Paredes da Torre», cercada presentemente por densa floresta mas de facil acesso. Tradiçoes antigas com varias lendas a mistura, dizem que perto da praia da Vagueira naufragou um navio frances dentro do qual havia uma imagem de Nossa Senhora que a tripulaçao conseguiu salvar e esconder debaixo de arbustos que na altura rareavam no areal. Dirigindo-se para Esgueira, freguesia mais proxima, a tripulaçao contou o sucedido ao Paroco que acompanhado por muitos fiéis, veio ao local onde tinham colocado a imagem, mas nada encontrou. Dizem uns que Nossa Senhora apareceu a um lavrador indicando-lhe o sitio onde se encontrava o qual ai mandou construir uma ermida; dizem outras que apareceu em sonhos a D. Sancho primeiro quando se encontrava em Viseu que dirigindo-se ao local e tendo encontrado a imagem, mandou construir uma capela e uma torre militar a fim de defender os peregrinos dos piratas que constantemente assaltavam aquela praia. Mas parece que a primeira ermida e o culto da Nossa Senhora de Vagos datam do século doze. O que fez espalhar a devoçao a Nossa Senhora de Vagos foram os milagres que se lhe atribuem. Entre eles consta a cura de um leproso, Estevao Coelho, fidalgo dos arredores da Serra da Estrela que veio até ao Santuario. Ao sentir-se curado além de lhe doar grande parte das suas terras, ficou a viver na ermida, vindo a falecer em 1515. É deste Estevao Coelho, que conta a lenda ter quatro vezes a imagem de Nossa Senhora de Vagos, sido trazida para a sua nova Capela, quando das ruinas da Capela antiga (Paredes da Torre), e quatro vezes se ter ela ausentado misteriosamente para a Capela primitiva. So a quarta vez se reparou que nao tinham sido transferidos os ossos de Estevao Coelho, e que as retiradas que a Senhora fazia eram nascidas de querer acompanhar o seu devoto servo que na sua primeira Ermida estava sepultado; trasladados os ossos daquele, logo ficou a Senhora sossegada e satisfeita. Supoe-se que ainda hoje, a entrada do Templo existe uma pedra com o nome de Estevao Coelho.
Outro grande milagre teve como cenario os campos de Cantanhede completamente aridos e improprios para a cultura devido a uma seca que se prolongava ha mais de quatro anos. A miséria e a fome alastrou de tal maneira por aquela regiao que todo o povo no auge do deserto elevava preces ao Céu, para que a chuva caisse. Até que indo em procissao a Senhora da Varziela, ouviram um sino tocar para os lados do Mar de Vagos. Toda a gente tomou esse rumo. Chegados a Ermida de Nossa Senhora de Vagos, suplicaram a Deus que derramasse sobre as suas terras a tao desejada chuva o que de facto sucedeu. Em face de tao grandioso milagre, fizeram ali mesmo um voto de se deslocarem aquele local de peregrinaçao, distribuindo ao mesmo tempo as pobres esmolas, dinheiro, géneros, etc. ... Ainda hoje essa tradiçao se mantém numa manifestaçao de Fé e Amor. Ainda hoje o pao de Cantanhede continua a ser distribuido em grande quantidade no largo da Nossa Senhora de Vagos.
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Perto do actual santuario que pelas lapides sepulcrais ai existentes, remota ao século dezassete, construiram-se umas habitaçoes onde de vez em quando se recolhiam em oraçao os Condes de Cantanhede e os Srs. de Vila Verde. Hoje, ja nao existem vestigios dessas habitaçoes.