quinta-feira, abril 07, 2005

Uma pequena homenagem


Porque ja tinhas dito que sentias a morte perto. Tremia-te a voz e tremiam-te as maos e tinhas o corpo cheio de dores. Depois, enquanto a tua imagem diminuaa e se apagava diante do nosso olhar, crescias ainda mais nos nossos coraçoes. Em ires até ao fim houve uma forma de nos gritares aquilo que a tua voz ja nao era capaz de dizer.
Ja de muitas maneiras te tinhamos agradecido, mas é conveniente dizer-te de novo um obrigado imenso.
Porque so tu nos disseste a verdade. Os outros disseram-nos aquilo que queriamos ouvir e aquilo que nos agradava - pois queriam ganhar adeptos e lucrar com isso - mas tu, como amigo sincero, nao tiveste receio de usar as palavras verdadeiras. Ainda que fossem duras, ainda que corresses o risco de ficar sozinho. Porque, se o caminho real era empinado e agreste, nao nos indicaste outro mais a medida da nossa preguiça, da nossa avareza, da nossa luxuria. Nao quiseste enganar-nos. Disseste-nos como podiamos encontrar-nos connosco mesmos e confiaste em que seriamos capazes de ser fortes. Porque os outros quiseram enriquecer a custa de ficarmos desnorteados, e tu quiseste tornar-nos ricos gastando o teu sangue e a tua vida. Porque o teu dia começava cedo e acabava tarde. Porque tinhas, com tanta idade, a agenda tao cheia. Rezavas e trabalhavas, mas ao rezares trabalhavas e ao trabalhares rezavas. Ninguém sabe dizer quando é que descansavas. Porque foi sempre para ti que olhamos em primeiro lugar, quando os poderosos preparavam novas guerras nos lugares onde ha petroleo, quando o odio derrubava edificios, quando chegavam noticias de novos "avanços cientificos que pareciam fantasticos, mas nos cheiravam a esturro. Porque os teus olhos eram limpos e o teu sorriso era bom e o teu coraçao bateu sempre ao lado do nosso. Porque eras um dos nossos nas tuas vestes brancas. Porque envelheceste cuidando de nos. Porque foste baleado por dizeres a verdade. Porque nao andavas mascarado, como os outros. Porque nao ficaste no teu palacio de Roma, mas vieste ter connosco até aos cantos mais pequenos do mundo e quiseste aprender connosco e sentir os nossos entusiasmos nobres. Porque quiseste falar-nos nas nossas linguas. Porque quando te apresentamos as nossas crianças tu as beijaste e abençoaste sem fingimento, como quem faz uma coisa muito, muito importante. Porque quando olhavas para nos vias uma bondade e uma força e uma beleza em que ja nao acreditavamos. Porque o pequeno e o grande tinham um lugar do mesmo tamanho no teu coraçao. Porque nao te preocupaste apenas com os que te eram proximos no pensamento, mas resolveste carregar sobre os teus ombros as dores, as preocupaçoes, os lutos e as lagrimas de todos os homens de todas as religioes. Porque guardavas no teu coraçao as nossas dores e sofrias com elas e nos somos muitos. Porque de tanto te abraçares ao teu Cristo crucificado te tornaste tao humano. Porque também escreveste as tuas poesias. Porque salvaste tantas vidas. Porque trabalhaste pela paz. Porque chegaste ao fim de um caminho tao longo cheio da juventude do amor. Porque morreste repleto de obras e de sonhos, olhando para as tuas maos, tao cheias, com a impressao de as veres vazias.
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Paulo Geraldo (Professor de Língua Portuguesa)
Uma simples e pequena homenagem a um Grande Homem! Posted by Hello