segunda-feira, agosto 08, 2005

Lenda da Caninha Verde

Em tempos que ja la vao, nos primeiros tempos da Reconquista, vivia num palacio em Fataunços, perto de Vouzela, o nobre guerreiro El Haturra, descendente do famoso chefe mouro Cid Alafum. El Haturra era velho e feio e nunca era visto sem a sua bengala, uma velha cana que vinha sendo transmitida na sua familia, de geraçao em geraçao, entregue ao seu novo possuidor com umas palavras misteriosas...
Ora, o facto de El Haturra se fazer acompanhar por aquela cana negra e ressequida era objecto de troça de todos, a tal ponto que um seu amigo, o jovem portugues Alvaro o aconselhou a desfazer-se dela. El Haturra confidenciou-lhe entao que a vara tinha magia e que se um dia chegasse a ficar verde era o sinal sagrado do profético encontro de dois primos descendentes de Cid Alafum.
Nesse dia esperado, as terras e os tesouros do antigo chefe mouro voltariam a posse da familia e as formosas mouras seriam desencantadas. Uma condiçao essencial era que ambos os descendentes professassem a religiao de Ala.
Um dia, passeavam El Haturra e o seu amigo Alvaro pelo campo quando viram uma linda princesa acompanhada por uma formosa aia, de cabelo negro e olhos azuis, que cavalgava um cavalo negro. De repente, a vara começou a ficar verde e El Haturra começou a rejuvenescer, tornando-se jovem e belo. Ao primeiro olhar, El Haturra tinha reconhecido na aia a descendente de Cid Alafum e, juntamente com Alvaro, saiu atras das duas jovens que se dirigiam a corte do rei de Portugal.
Diz a lenda que El Haturra conseguiu convencer a jovem aia a casar-se com ele e o rei de Portugal abençoou a uniao com uma condiçao: o baptismo de El Haturra. De inicio o agora jovem El Haturra opos-se veemente, mas por fim a sua paixao foi mais forte e aceitou o desejo real. O baptismo ficou marcado para o dia do casamento e foi entao que aconteceu algo de extraordinario: no momento em que estava a ser baptizado, El Haturra voltou a ser velho e feio como dantes.
A magia da caninha verde so seria valida se ambos os nubentes professassem a religiao de Maomé. A noiva desmaiou naquele mesmo momento e nunca mais quis ouvir falar no seu noivo que desapareceu para sempre, enquanto que a sua cana verde foi guardada num sitio secreto. Segundo a tradiçao, se alguém gritar "Viva o fidalgo da caninha verde!" no mesmo local e a mesma hora em que se deu o encontro entre os dois descendentes de Cid Alafum, ouvira gargalhadas alegres das mouras encantadas que pensam que chegou a hora da sua libertaçao.